A Amazônia pode – e deve – ser abraçada por todos os habitantes deste imenso país. Diferentemente do passado, em que visitá-la era sinônimo de longas travessias de barco e noites mal dormidas, hoje há uma sofisticada rede de hotéis de selva com ótima infraestrutura. Desse modo, tornou-se possível conhecer lugares incríveis, indicados para quem busca fugir dos grandes centros urbanos e curtir momentos inesquecíveis, sem abrir mão do conforto. Por isso, montamos um roteiro para explorar o que há de melhor, passando pelos estados do Amazonas, de Roraima e do Pará.
A capital do Amazonas é um destino histórico e a porta de entrada para se conhecer uma das florestas mais ricas do mundo. Para inaugurar o nosso programa de descobertas naturais, partiremos, de barco, por algumas horas, pelo antológico Rio Negro, até chegar a Novo Airão, onde está o Arquipélago de Anavilhanas. É possível contratar serviços que levam os viajantes até o local. Ali estão aproximadamente 400 ilhas, formando um dos maiores arquipélagos de água doce do planeta. Nela, está o Parque Nacional de Anavilhanas. Na seca (setembro a fevereiro), é possível desfrutar das belas praias de areias brancas que emergem por todo o lugar. Na cheia (março a agosto), por sua vez, o ponto alto são as trilhas aquáticas de igapó – passeios de barco por dentro das matas alagadas. O acesso é restrito e, por isso, deve-se consultar a disponibilidade da visita com antecedência.
No município de Novo Airão, não podemos perder a chance de ver de perto os famosos botos-cor-de-rosa – carismático símbolo da Amazônia brasileira, presente em lendas e mitos folclóricos. Nessa experiência, que tem como pano de fundo o Rio Negro, os turistas podem chegar bem próximo aos animais. Lembramos que, apesar de eles chegarem a mais de 2,5 metros de comprimento e 180 quilos, são criaturas dóceis e sociáveis. E, na interação com as pessoas, eles ganham peixes de presente para comer.
No Rio Negro, também vale a visita ao Parque Ecológico do Lago Janauari – são 9 mil hectares de matas de terra firme, várzea e igapó. Os passeios fluviais na reserva incluem almoços regionais em restaurante típico e tour de voadeira, um tipo de canoa que circula pelos lagos e igarapés. Ademais, admire um outro importante ícone amazônico: a vitória-régia. Essa planta espetacular, que chega a medir 1,8 metro de diâmetro, é popularmente conhecida como “raia dos lagos”. Ela dura apenas três dias e nasce branca. Com o passar do tempo, avança suas folhas sobre as águas rasas e tranquilas do Rio Negro, tal qual uma bandeja verde. Em seguida, adquire coloração lilás e finaliza seu ciclo em vermelho escuro.
Para concluir a primeira parte do nosso roteiro nas imediações de Manaus, o lendário Encontro das Águas não poderia ser deixado de lado. Pelo contrário, esse é um dos highlights da nossa aventura. Trata-se de um fenômeno hidrológico, no qual os rios Negro e Solimões se confluem, proporcionando um espetáculo inesquecível. Temos duas opções para contemplá-lo: a distância, do Mirante da Embratel, no bairro Colônia Antônio Aleixo, ou de perto. Neste último caso, a bordo de um barco, somos presenteados com a sagrada junção da água escura do Rio Negro à água barrenta do Solimões, o que nos propicia uma cena digna de pintura. Ressalta-se que, lá, não se pode mergulhar, porque as águas são profundas e revoltas. A depender do tipo de tour contratado, podem-se visitar comunidades ribeirinhas, fazer trilhas ou observar aves locais.
Muitos povos – no médio Rio Negro, são cerca de 15 etnias que se misturam – promovem desde o montanhismo até a pesca esportiva, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Uma sugestão para visitação é a Aldeia Yukura, da etnia original de Pari Cachoeira, no alto do Rio Negro. Situada no Parque Ecológico do Lago Janauari, ela recebe muito bem os visitantes, oferecendo diversas opções de turismo de natureza.
Seguimos adiante, ainda no Amazonas, e desembarcamos em um singelo e encantador município que possui nada menos que 159 cachoeiras, sete corredeiras, nove cavernas e incontáveis grutas. Estamos falando da pequena Presidente Figueiredo, a 107 km de Manaus, que recebeu a alcunha de “terra das cachoeiras”. Essa profusão de atrações naturais faz do lugar um destino imperdível para os amantes de turismo de aventura e ecoturismo. Há opções de esportes como rapel, rafting, tirolesa, boia-cross, caiaque, arvorismo e trilhas na selva. O acesso até as principais quedas-d’água é feito pela AM-240 ou pela BR‑174. É possível chegar de carro até o início das trilhas.
A maioria delas é curta, mas cachoeiras badaladas, como a das Onças, exigem um pouco mais de esforço. Se o seu tempo for pouco, o mais recomendável é priorizar o passeio à Caverna Maroaga e à Gruta da Judeia. Com alturas que variam dos três aos 30 metros, a maior parte das cachoeiras está dentro de parques naturais e reservas protegidas – ou até mesmo de propriedades povoadas. Entre as mais populares, destacam-se a do Urubui, a do Santuário e de Iracema.
A segunda parte do nosso roteiro será a partir de Roraima, que reserva surpresas transcendentais. Nossa jornada se inicia pelo mítico Monte Roraima, cobiçado por trilheiros de todo o mundo, os quais são atraídos por sua beleza, excentricidade e história. Trata-se de um tepui, típico platô do planalto, localizado na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. O acesso a ele, normalmente, é feito pelo lado venezuelano, que detém a maior parte do monte, pela Rota de Paraitepuy. Para chegar lá, é preciso planejar com calma e ter disposição. Com uma altitude de 2.875 metros, o Monte Roraima é o oitavo ponto mais alto do Brasil. Sua origem (estima-se que tenha mais de 2 bilhões de anos) remete ao período pré-cambriano, era geológica anterior à existência de vida complexa no planeta. Muito comuns por lá, os trekkings devem ser praticados entre os meses de dezembro e março, que compreendem a estação menos chuvosa.
Ainda em Roraima, seguimos para o Parque Nacional da Serra da Mocidade, com a maior biodiversidade da Amazônia, situado no município de Caracaraí, vizinho à reserva indígena Ianomami. O acesso é feito pela BR-174, partindo de Boa Vista e avançando-se 130 km de estrada asfaltada até chegar a Caracaraí. Segue-se, então, pela margem direita do Rio Branco, até o Rio Água Boa do Univini, navegando-se por aproximadamente 5 horas de barco. A vegetação é composta basicamente por Floresta Amazônica, e o parque é a casa de diversas espécies de animais, como a onça-pintada, a ariranha e aves migratórias provenientes do hemisfério norte, como a garça-branca, o anacã, o gavião-real e o gavião-preto.
Se preferir algo mais tranquilo, a 8 km de Boa Vista, às margens do Rio Cauamé, um dos principais afluentes do Rio Branco, surgem praias fluviais de verão, como Caçari e Curupira, que contam com águas límpidas e são cercadas por vegetação típica da Amazônia. Dá para relaxar com conforto, já que o lugar dispõe de boa infraestrutura de apoio e serviços para receber os visitantes
Uma boa dica para quem está em busca de muita aventura e paisagens estonteantes é investir na popular Rota 174, que liga a cidade de Manaus/AM a Pacaraima/RR, ao longo de 1.100 km pela BR-174.
O roteiro compreende cenários que intercalam savanas e Floresta Amazônica, onde se pode desbravar cavernas, grutas, corredeiras, serras e cachoeiras. É possível testemunhar a integração das culturas indígena e cabocla, muito presente na gastronomia, no artesanato e nas vivências das comunidades.
O passeio é realizado durante o ano todo, já que existem apenas duas estações climáticas distintas: a das chuvas e a da seca.
A última parte do roteiro passa pelo Pará. Chegamos ao município de Santarém, no meio da rota fluvial do Rio Amazonas, entre Belém e Manaus. O destino oferece belas atrações turísticas, com áreas de floresta tropical, rios caudalosos, igapós e cerrado. Um dos seus principais atrativos é o encontro das águas azuis do Rio Tapajós com as barrentas do Amazonas – um dos espetáculos mais incríveis de se presenciar. Mas a área também apresenta vocação natural para o ecoturismo e o turismo histórico, cultural, gastronômico e religioso. São mais de 100 km de praias de água doce, além de cachoeiras, sítios arqueológicos, florestas, lagos, igarapés, trilhas e ilhas.
Normalmente, quem vai a Santarém tem como prioridade conhecer a famosa “Caribe da Amazônia”: Alter do Chão, que já foi considerada a mais bela costa fluvial do mundo. Há praias de tirar o fôlego, banhadas pela água cristalina do Rio Tapajós, em perfeita sinergia com a natureza. A melhor época para visitação é entre setembro e janeiro, quando o nível da água fica mais baixo. Para aproveitar intensamente a experiência, recomendam-se passeios de barco e trilhas no meio da floresta. Vale lembrar que a região conta com boa infraestrutura de hospedagem e uma rede de restaurantes e quiosques, para se deliciar com saborosos pratos de peixes típicos.
Finalizamos nosso roteiro na outra extremidade do Pará, na maior ilha fluviomarinha do mundo, a Ilha de Marajó. Banhada pelo Oceano Atlântico e pelos rios Amazonas e Tocantins, ela é dividida em 12 municípios pontilhados por matas, rios, campos, mangues e igarapés. O ponto de partida é Belém, de onde saem balsas, barcos e catamarãs, para, 3 horas depois, chegar a Soure, a capital da ilha. É lá que estão as melhores praias, como a do Pesqueiro, a Barra Velha e a Joanes, e as hospedagens e os restaurantes mais interessantes. O território é de grande variedade de peixes e pássaros, onde podem ser realizadas muitas atividades em meio à natureza, nas fazendas.
Imagine-se em uma viagem diferente de qualquer outra, onde é possível pescar em igarapés ou, com lanternas e holofotes, observar animais à noite. Um lugar que oferece a oportunidade de se ter contato com pássaros, macacos, jacarés, botos e bichos-preguiça em seu habitat natural. De quebra, ainda ser presenteado com trilhas cinematográficas algumas delas, aquáticas – e cachoeiras deslumbrantes. Some a isso a possibilidade de demonstrarmos respeito aos povos indígenas, visitando algumas de suas comunidades. Somente a Amazônia proporciona tudo isso em uma só jornada.
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