“A Amazônia não é um lugar para onde vamos carregando nosso corpo, esse somatório de células e subjetividades que somos. Não é assim. A Amazônia salta para dentro da gente como num bote de sucuri, estrangula a espinha dorsal do nosso pensamento e nos mistura à medula do planeta. Já não sabemos que eus são aqueles. As pessoas seguem nos chamando por nossos nomes, atendemos, aparentemente estamos com nossas identidades intactas – mas o que somos, já não sabemos.”
As palavras da escritora Eliane Brum – que se apaixonou pela floresta a ponto de lá fixar moradia – descrevem com maestria o que é colocar os pés em uma das regiões mais espetaculares da Terra. Para os turistas, conhecer os encantos e os mistérios da fauna e flora únicas põe o termo “ecoturismo” em um novo patamar. A partir de Manaus, capital do Amazonas, preparamos um roteiro que, por água e por terra, vai ajudá-lo a mergulhar na experiência de vivenciar a Amazônia.
Um dos passeios mais incríveis na capital do maior estado do Brasil é o Encontro das Águas, onde o Rio Negro e o Rio Solimões convergem, sem que, entretanto, suas águas se misturem. Antes de chegar lá, saindo do Porto de São Raimundo, em Manaus, o barco cruza a Ponte Jornalista Phelippe Daou, mais conhecida como Ponte Rio Negro.
Ela nos leva para conhecer as palafitas da comunidade Catalão, distante 40 minutos da cidade. Algumas recebem os turistas com produtos típicos e artesanato. Seguindo pelas águas escuras, é hora de visitar uma tribo indígena que tem orgulho de mostrar suas malocas e suas danças tradicionais.
Em seguida, o barco ancora em uma plataforma flutuante na região do Novo Airão para que se assista ao espetáculo dos botos-cor-de-rosa. Para chamar a atenção dos mamíferos, experientes ribeirinhos oferecem peixes. Depois, é torcer para que eles busquem pela refeição e, com isso, nos presenteiem com um show à parte.
Por fim, chega-se a um dos momentos mais aguardados: o de apreciar o encontro entre os rios Negro e Solimões. É possível ver com detalhes a linha que separa uma água da outra. Esse fenômeno ocorre devido a três fatores que as diferenciam: temperatura, densidade e velocidade. Ou seja, enquanto o Rio Negro tem húmus e corre a cerca de 2 km/h e a uma temperatura de 28°C, o Rio Solimões tem muito cálcio e magnésio e corre a aproximadamente 5 km/h e a 22°C. Informações técnicas à parte, a melhor época para curtir o programa é no período do rio cheio, que vai de janeiro a julho.
Antes de voltar a Manaus, siga para o Parque Ecológico Janauari, uma área com 9 mil hectares, cheia de várzea e igapós (florestas inundadas). Destaque para a vitória-régia, planta típica da região amazônica e uma das maiores espécies aquáticas do mundo. Suas folhas flutuantes e flores aromáticas têm aspecto exuberante e ornamental. Próximo ao parque, visite a comunidade de casas flutuantes do Catalão e experimente o famoso peixe pirarucu, nativo do estado.
Existe um passeio que permite que você conheça a fundo a rotina de um caboclo amazônico (nativo). É o Tour da Sobrevivência, que dura, em média, três dias. No primeiro deles, você se acomoda na selva e adquire conhecimentos práticos de como remar as canoas e pescar com redes e flechas, entre outras ferramentas.
O segundo dia inclui caminhada para encontrar água, fogo e vegetais. Você também aprende técnicas de primeiros socorros e construção de armadilhas. No terceiro dia, se conhecem as plantas medicinais e seus usos e se participa de palestras sobre as lendas amazônicas e os costumes indígenas.
O ponto alto é o banho de rio próximo aos golfinhos fluviais. Para viver essa experiência de forma completa, até o cardápio oferecido aos visitantes é regado a simplicidade: frango, peixe, farinha e frutas, tudo servido em folhas.
O ponto alto da aventura é a focagem noturna de jacarés, que se inicia depois das 21h, pois os animais têm o hábito de dormir durante o dia. Os guias locais são capacitados e treinados para identificá-los e atraí-los até a embarcação. Quando se aproximam, os profissionais os capturam e os apresentam aos turistas. Quem tiver coragem, pode segurá-los, sob orientação, e fotografar e gravar o momento. Há quem diga que a adrenalina compensa qualquer susto. Depois de breves minutos sob os holofotes, o réptil é devolvido ao seu habitat.
Outra forma de viver uma experiência amazônica única é ir ao Parque Nacional de Anavilhanas. Ele reúne biodiversidade, cultura ribeirinha e história. Para chegar até lá, barcos partindo de Manaus percorrem 200 km Rio Negro adentro.
A área é formada por 400 ilhas e 60 lagos, conferindo-lhe o título de segundo maior arquipélago fluvial do mundo. Chama atenção o labirinto formado por paranás (canais) e furos (estreitos caminhos que atravessam os igapós), que pode ser percorrido de canoa pela manhã ou à noite. São inúmeras as atividades na região, entre elas trilhas pela mata, pesca de piranhas e observação da vida noturna dos animais.
Não deixe de ir ao Museu do Seringal, localizado no igarapé São João, no Tarumã-Mirim. O acesso é feito somente por via fluvial. Para chegar, é preciso ir até a Marina do Davi, em Ponta Negra. Lá, se conhece o Ciclo da Borracha – muito importante para a história econômica e social do Brasil.
O programa inclui visita ao Casarão e ao Barracão de Aviamento, que exibe artigos manufaturados e industrializados vendidos aos seringueiros. Não perca o percurso que leva ao Tapiri de Defumação da Borracha, onde se defumava o “leite” retirado das seringueiras, até formar grandes bolas de borracha. No caminho encontram-se seringueiras.
A beleza da Amazônia não está apenas na imensidão dos rios. Há muitas coisas boas para se fazer por terra para quem vai a Manaus. Vale um city tour pelo centro da cidade, distante 13 km do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Entre um ponto e outro, o turista passa por construções que contam a história e guardam a memória dos tempos áureos da borracha no estado.
Comece a visita pelo Teatro Amazonas. É o ponto turístico mais emblemático do município. Sua arquitetura e decoração resguardam o estilo renascentista original. O curioso é que a pintura externa já foi cinza, mas mantém o rosa desde 1990.
Dali, siga para o Centro Cultural Palácio Rio Negro, construido em 1903 para servir de residência ao alemão Karl Waldemar Scholz, abastado comerciante da borracha. Restaurado, o edifício agora funciona como um espaço para atividades culturais. Próximo está o Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Reserve um tempo para ir até lá e prestigiar a comida e cultura locais. Ótimo para garantir a lembrancinha antes de deixar a cidade.
Viva uma experiência ainda mais completa desfrutando do acervo do Museu da Amazônia (Musa). São 25 km de distância do centro até o enorme jardim botânico. Nele, encontramos viveiros de orquídeas e bromélias, exposições artísticas e o Lago Vitórias-Régias, que mais parece um quadro a céu aberto, tamanha sua beleza. Não deixe de subir ao mirante da Torre de Observação, de 42 metros de altura, com vista espetacular para a imensidão da Floresta Amazônica.
Com tempo livre, a partir do museu, siga para Presidente Figueiredo (a 120 km de Manaus), um lugar que abriga dezenas de cachoeiras – a maioria com quedas d'água baixas, que atraem turistas do mundo inteiro. Uma das mais famosas é a de Iracema, no Parque Ecológico Iracema Falls. Dentro do complexo, também estão a Cachoeira das Araras, grutas, trilhas, um restaurante e um hotel. Outra atração indispensável é a Cachoeira do Santuário. Ela tem esse nome porque abriga, na primeira parada, uma pequena imagem de Santa Clara.
Já a da Pedra Furada, além de bonita, é curiosa, por partir de três grandes furos de uma rocha, formando uma piscina natural de águas calmas. Aos aventureiros, a dica é a Cachoeira da Neblina, a maior da cidade, com 30 metros de altura. Para chegar, é preciso enfrentar 7 km em meio à floresta, mas a recompensa vale o esforço: um imenso paredão de água e diversos poços para banho. Como se pode ver, são muitas as razões para esse lugar ser um dos que mais fascinam visitantes de todo o mundo.
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