O pão nosso de cada dia

O pão nosso de cada dia
A gastronomia é um dos melhores jeitos de conhecer uma cultura. E não existe um alimento que conecte mais as sociedades ao redor do mundo como o pão. Ele é extremamente popular e, em muitas regiões, chega a ser sagrado. Por isso, convido você a fazer uma viagem para conhecer suas mais diversas formas de preparo
14 de abril, 2023

Índia 

Conta a história que o chapati é um dos pães mais antigos de que se tem registro. Muito consumido pelos indianos, ele também é conhecido pelos nomes de roti, safati ou shabaati e é facilmente encontrado nas regiões do Nepal, de Bangladesh, do Paquistão e do Sri Lanka. Fácil de preparar, a iguaria pode acompanhar qualquer prato (como carnes e verduras) ou ser servida na forma de panqueca, com recheio doce ou salgado. Como os indianos possuem o hábito de comer com as mãos, o pão comumente substitui os talheres na hora da refeição. 

O interessante é que o chapati não leva fermento e, por isso, não precisa descansar para crescer, o que torna o seu preparo ainda mais rápido. Os elementos básicos para se colocar a mão na massa são farinha de trigo, óleo, água e sal. O tamanho muda conforme a região. Geralmente, os que são preparados em casa variam entre 15 e 18 centímetros de diâmetro. Na hora de consumir, você pode acrescentar, por exemplo, o homus (pasta de grão de bico), um patê ou qualquer outro ingrediente de sua preferência.

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Taj Mahal, Índia

Ilha da Madeira (Portugal)

Tipicamente madeirense, o Bolo do Caco (isso mesmo, bolo) é produzido à base de trigo e batata doce. Apesar de ser chamado de bolo, ele é, na verdade, um pão de formato arredondado e achatado, crocante por fora e macio por dentro. 

O bom é comê-lo ainda quentinho, cortando-o com a mão.

A explicação para o nome é que, antigamente, ele era assado sobre uma pedra de basalto, conhecida como “caco”, alcançando altas temperaturas até adquirir uma crosta fina, levemente queimada. Hoje é feito em uma chapa de ferro. 

E o melhor é que nem é preciso sair de casa para comer. É fácil de fazer e requer poucos ingredientes: farinha de trigo, batata doce, fermento, água e sal. Depois, é só levar à frigideira ou ao forno. Em Portugal, é comum comer esse pão com manteiga de alho, mas ele é muito versátil, então combina com carne, queijo e, claro, um bom café.

Ilha da Madeira, Portugal
Ilha da Madeira, Portugal

Líbano

Um pão em formato de anel, coberto com sementes de gergelim. Essa é a aparência do pão kaak, conhecido como Kaak el Asrouniyeh. É comum ver pelas ruas de Beirute ou vilarejos da região homens vendendo essa delícia (doce ou salgada) em carrinhos ou bicicletas. 

Os recheios são dos mais variados, entre os quais se destacam o zaatar (mistura de especiarias) e o queijo, os mais populares. Até mesmo puro ele é saboroso. Pode-se também mergulhá-lo na sua bebida predileta ou apreciá-lo com canela por cima. O alimento é popularmente servido no Eid al-Fitr, celebração muçulmana que marca o fim do jejum do Ramadã. O Egito também inclui essa iguaria, lá conhecida como kahk, nas refeições da Páscoa. No país, ela é produzida com açúcar revestido e muitas vezes recheada com agameya – uma mistura de mel, nozes e manteiga. O recheio pode ser igualmente composto por pistache, nozes ou tâmaras. A receita é simples. Basta misturar farinha de trigo, sal, fermento, ovo, mel e gergelim.

Líbano
Líbano

Salvador (Bahia)

Só o nome dele já diz tudo: Pão Delícia. Proveniente da capital baiana, é um ícone da gastronomia local tanto quanto o acarajé. Está presente nos casamentos, aniversários e festas de formatura e aparece até nas novelas brasileiras. Seja ele grande ou pequeno, os turistas vivem se rendendo ao seu sabor. 

Tem uma textura fofinha e é finalizado com queijo parmesão ralado. Depois de muito tempo da sua criação, cada região foi aprimorando a receita original com um toque especial, como cream cheese ou pedaços de frango. Os ingredientes são os tradicionais para o preparo de um pão comum, com o adicional do queijo parmesão, que não pode faltar. 

Reza a lenda que a primeira receita veio de uma dona de casa que preparou uma massa que acabou ficando grudenta, em razão da pouca quantidade de farinha de trigo adicionada. Ela decidiu produzir os pães mesmo assim, mas os deixou no forno por pouco tempo.  

O preparo só foi ganhar fama, entretanto, com a cozinheira baiana Elíbia Portela, considerada a idealizadora do Pão Delícia em 1970. Hoje, poucos são os que visitam a cidade e não experimentam essa maravilha brasileira, cujo nome indiscutivelmente faz jus ao sabor.

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Salvador

Argentina e Uruguai

Quem pensa em viajar por nossos países vizinhos já deve deixar marcada na agenda uma vivência gastronômica envolvendo a estrela das cafeterias e casas de chá da Argentina e do Uruguai: a medialuna. O nome se deve ao formato do alimento, que lembra uma meia-lua crescente.

A diferença entre ele e o croissant  francês é que o primeiro é mais folheado, macio e amanteigado. As medialunas são produzidas nas versões doce e salgada, mas as adocicadas são as mais tradicionais. Os recheios podem ser dos mais variados: geleia, chocolate, cream cheese e, ainda, o tradicional doce de leite. Para acompanhar, peça um cortado, clássico café expresso portenho servido com leite. 

Como a gastronomia muitas vezes reconta a história, diz-se que o alimento foi criado em meio a uma batalha entre a Áustria e o Império Otomano, em 1683. A vitória teria sido alcançada pelos austríacos graças ao auxílio de padeiros, que teriam emitido sinais alertando sobre a chegada dos invasores. 

Para comemorar, eles criaram um pão doce em formato de lua, ironizando a bandeira turca. Séculos depois, a austríaca Maria Antonieta, ao se tornar Rainha da França, levou a delícia para lá, permitindo que ela fosse aprimorada pelos padeiros franceses.

Argentina
La Boca, Argentina

Curaçao

Tradicional pão da ilha caribenha, o Pan Será tem uma textura curiosa por ser achatado e denso, mas nem por isso deixa de ser saboroso. Fácil de fazer, requer poucos ingredientes, como farinha, fermento, açúcar, margarina e água. 

Seu molde tradicional é redondo e em sua finalização ele leva pinceladas de ovo ou leite para, ao ir ao forno, desenvolver uma crosta de cor marrom. A sua diferença para os demais tipos de pão é que leva um mínimo de fermento e recebe picadas de garfo na sua superfície. É consumido normalmente com peixe, ovos e abacate.

Curaçao
Curaçao

Inglaterra

Na terra da rainha, tão tradicional quanto o chá da tarde são os scones, pequenos pães que sutilmente lembram biscoitos ou o nosso pão de queijo. São densos e ligeiramente secos e quebradiços. Originário do sudoeste da Inglaterra, mais especificamente de Cornwall e Devon, a sua tradição se espalhou pela Grã-Bretanha. São várias as versões para explicar o seu nome de batismo. Uma delas é a de que vem de Stone of Destiny, lugar onde os reis escoceses eram coroados. Assim, stone teria virado scone. 

A versão original da receita usa aveia e levedura. O segredo para o seu correto preparo está no uso do trigo, que traz a quantidade ideal de glúten para deixar a massa com a consistência perfeita. O acompanhamento ideal é uma quantidade generosa de clotted cream e geleia. E, se apreciar com o chá da tarde, você viverá a mais tradicional experiência inglesa.

Londres
Londres, Inglaterra

Marrocos

O batbout  lembra um envelope e é comumente conhecido como “pão pita” (o clássico pão sírio). Macio e prático de fazer, pode ser preparado na frigideira em poucos minutos. 

O momento certo de tirar do fogo é quando ele infla. A dica é usar uma panela de ferro ou de fundo grosso. Caso não as possua, utilize o forno. Os recheios dependem da sua criatividade, ao produzir em casa, ou da criatividade do lugar onde você compra a iguaria. Mel, manteiga, patê e pastas diversas caem muito bem. 

Em Marrocos, o pão tem um peso religioso muito forte e, por isso, é comum encontrá-lo nas mesas das famílias diariamente, exceto às sextas-feiras, quando, tradicionalmente, come-se cuscuz. Experimente.

Casablanca
Casablanca, Marrocos

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